domingo, 29 de novembro de 2009

Amigo é pra essas coisas


Amigo É Pra Essas Coisas
Composição: Aldir Blanc e Silva Junior

- Salve!
- Como é que vai?
- Amigo, há quanto tempo!
- Um ano ou mais...
- Posso sentar um pouco?
- Faça o favor
- A vida é um dilema
- Nem sempre vale a pena...
- Pô...
- O que é que há?
- Rosa acabou comigo
- Meu Deus, por quê?
- Nem Deus sabe o motivo
- Deus é bom
- Mas não foi bom pra mim
- Todo amor um dia chega ao fim
- Triste
- É sempre assim
- Eu desejava um trago
- Garçom, mais dois
- Não sei quando eu lhe pago
- Se vê depois
- Estou desempregado
- Você está mais velho
- É
- Vida ruim
- Você está bem disposto
- Também sofri
- Mas não se vê no rosto
- Pode ser...
- Você foi mais feliz
- Dei mais sorte com a Beatriz
- Pois é
- Vivo bem
- Pra frente é que se anda
- Você se lembra dela?
- Não
- Lhe apresentei
- Minha memória é fogo!
- E o l'argent?
- Defendo algum no jogo
- E amanhã?
- Que bom se eu morresse!
- Prá quê, rapaz?
- Talvez Rosa sofresse
- Vá atrás!
- Na morte a gente esquece
- Mas no amor a gente fica em paz
- Adeus
- Toma mais um
- Já amolei bastante
- De jeito algum!
- Muito obrigado, amigo
- Não tem de quê
- Por você ter me ouvido
- Amigo é prá essas coisas
- Tá...
- Tome um cabral
- Sua amizade basta
- Pode faltar
- O apreço não tem preço, eu vivo ao Deus dará

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Exercício de cafuné


Lembrando uma frase da Leila Diniz: "Eu dizia que cafuné eu topava até de macaco..."

domingo, 22 de novembro de 2009

Cansei

Da dor nas costas que está me matando;
Do seu silêncio;
Da hipocrisia;
Das mentiras;
De repetir os mesmos erros...

Só quero ficar quietinha, na paz, tentando encontrar meu equilíbrio...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Exercício de ser uma nova mulher

Eu não posso falar palavrão. Não posso dizer que gosto de sexo. Muito menos assumir as minhas preferências sexuais. O que penso não posso exprimir, minha espontaneidade afugenta meus pretendentes. Sexo no primeiro encontro acarreta falta de respeito. Quando era criança, não podia sentar de perna aberta, deitar ou sentar no colo das pessoas. Eu era treinada para ser uma grande mulher. Aprender a cozinhar e cuidar da casa era uma lição fundamental. Mesmo que eu trabalhasse fora e pudessse pagar uma empregada, porque quem não sabe fazer não sabe mandar. Esta mulher que eu devia me tornar, quero simplesmente esquecer que ela existe.

Sobre os homens, aprendi a gostar de vários, sofrer por nenhum. O sofrimento aceitável é só por mim mesma. Mentiras sinceras não me interessam. Admiro as pessoas verdadeiras, as mentirosas quero distância. Sobre a infidelidade, proponho direitos iguais. Para isso existe diálogo e relação aberta.

Por favor, quando se interessar por mim, me trate de forma especial. Quando estou com alguém me entrego inteiramente aquele momento, portanto faço a mesma proposta. Eu tô quietinha no meu canto, se me escolher, não me troque por outras mais fáceis.

Permita-me xingar meus palavrões, não sou desqualificada, somente preciso exorcizar tantas coisas reprimidas na minha vida. Não sou objeto, não beijo sem palavras, não me encontro com ninguém só as segundas depois das 22h. Eu bebo mais que você, mas não fique ameaçado. Aliás não sou uma ameaça. Só ganho meu dinheiro, tenho minha casinha e faço o que gosto, tanto profissionalmente quanto nas minhas horas de lazer. Sou inteligente, mas tenho minhas limitações, não sou confiante e sofro de terrível carência.

Quanto a me amar, estou aprendendo a cada dia. Tenho uma beleza comum. Não sou perfeita, mas mesmo assim sou bela. Às vezes mais charmosa e sensual do que bonita. Quando estou feliz, a beleza vem do brilho do meu olhar, da luz que emana do meu corpo. Nestes dias ninguém me segura tal o transbordamento e o significado do meu nome, transparece. Luz.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

de leila@ipanema para geisy@uniban

Joaquim Ferreira dos Santos

Leila Diniz dá uns toques na garota da minissaia


Geisy, você não me conhece, mas eu soube o que você andou passando. Dei um tempo no sol que eu estava pegando numa nuvem pra te escrever. Negó seguin. Eu acho que nem se fala mais assim por aí, mas me perdoa esses cacoetes. Peguei com o pessoal do "Pasquim", uns jornalistas tarados que bebiam todas nos bares de Ipanema e depois iam para redação explodir a imprensa tradicional. Eles eram duca. Diziam "Eu vou batepatu, patubatê patuapatota", e é isso que eu vou fazer aqui. Queria dizer que já passei drama parecido com o teu. Sou uma atriz dos anos 60, a década em que as mulheres começaram a usar minissaias como a que você vestiu na Uniban e os babaquaras não deixaram. Desculpe os palavrões, mas são as minhas vírgulas. Dei uma entrevista praqueles malucos do "Pasquim" e, no lugar de palavrões que eu falava, como "merda", "pentelho", "trepar", essas coisas que hoje passam na novela das seis, eles colocaram asteriscos do tipo (*). O palavrão virou verdade em mim, e quando as coisas são verdade todo mundo aceita. Mas foi uma desgraceira. Só a Dercy Gonçalves falava. Mulher de classe média não dizia palavrão, mulher decente de Ipanema não dizia que podia amar um homem e ir para a cama com outro - e eu disse isso tudo e muito mais no "Pasquim". Foi um escândalo. Era o início da ditadura dos militares. Os comunistas acharam que eu era uma alienada, os generais me perseguiram. Mifu de verde e amarelo. Fiquei sozinha, todo mundo atirando pedra e gritando "puta" como fizaram na Uniban. Da mesma maneira que você chegou a ser expulsa, tive que ir à delegacia assinar um documento jurando que não diria mais palavrão em público. Fiquei escondida em casa de amigos, perdi o emprego na novela da Globo. Foi (*) no (*) de Creuza. Precisei abrir uma butique de batas indianas em Ipanema para sobreviver.

Sacumé, Geisy? O negócio é ser feliz. Se você gosta de ir de minissaia atochadinha pra Uniban, continua. Eu escolhia os meus trabalhos pela patota, não queria saber se era filme de arte ou o (*) a quatro. Queria me divertir. Mas vou batepatu. A liberdade da mulher vai ser sempre uma coisa difícil para os outros. Não foi a minissaia nas tuas pernas, foi a caretice de séculos na cabeça deles. Eu, se fosse você, (*) e andava pra isso. Mas segura o tranco. Isso ainda demora para acabar - e dói.

Eu estou te dizendo isso tudo porque li as notícias aqui em cima, no portal de São Pedro, e achei que contar meu caso te ajudaria a entender o drama. Eu acho discurso uma (*) e nunca foi o meu caso. Meu negócio era sair nadando do Posto Seis até o Leme em alto-mar. Mas sei, sofri na pele, que preconceito é pedra dura que nem a do Arpoador. Não morre de uma hora para a outra. Mais adiante vão apedrejar alguma mulher porque ela sentou de perna aberta. Neguinho é (*). Não sei se já te contaram, não ria, mas no meu tempo havia um código para a mulher se sentar como devia, toda bem fechadinha. Trancada. Casava-se virgem, acredita? Moça não dava. Não dizia palavrão. Não ia sozinha ao cinema. Teve um cantor da Jovem Guarda, o Bobby di Carlo, que fez sucesso com uma música chamada "Ela é uma boneca que diz não, não e não". Pode rir. As moças dos anos 60 eram como as moças de todos os tempos, e elas queriam o direito de poder dizer "sim, sim e sim" ao que merecesse. Queriam dar, mas estavam proibidas. O padre ameaçava excomungar, o pai dizia que botava para fora de casa, e a mãe era internada depois de passar a tarde inteira gritando "minha filha é uma perdida". Sofria-se. Eu estava lá. Um dia a alça do meu sutiã apareceu por baixo do vestido, e o meu pai, comunista do Partidão, deu a maior bronca. Disse que eu parecia uma qualquer.

Não era mole ser mulher nos anos 60, e, pelo que eu vi acontecer com você, continua não sendo. Eu dizia que cafuné eu topava até de macaco, porque o normal era a mulher apanhar muito. Quiuspa. Quimera. Era barra-pesada. Como eu não estava nem aí, os bocomocos de Ipanema, assim como os da Uniban, me chamavam de "puta". Não liguei. Por um lado, vivi a a minha vida e, até que o avião caísse na Índia, fui muito feliz. Se servi de exemplo para as outras mulheres, não me importa. A intenção era viver do jeito que eu queria, com os homens que eu escolhia e, cacilda!, não ligar para o que dissessem. Aqui Del Rey! Fiz o que me deu na telha. Um dia fui julgada num programa de televisão, e o sujeito disse que eu não tinha o direito de ser mãe, porque era uma prostituta. Chorei muito em rede nacional e, sempre que vejo uma mulher em situação parecida, vítima do eterno rancor de ela ser como quiser ser, eu me solidarizo.

Pois é isso, Geisy. Eu estava aqui na minha nuvem, pegando um bronze com o doce canalha do Anselmo Duarte, que acabou de chegar, mas achei que devia te mandar um alô. Ser mulher é (*) e assim vai continuar sendo por muito tempo. Vão encontrar sempre um jeito novo de manifestar o preconceito. Um dia, eu estava grávida, coloquei o biquíni e fui à praia. Foi um escândalo. Tudo porque eu não usei, como todas as grávidas, uma bata que vinha do sutiã e tapava barrigona. Barriga daquele jeito era sinal de que tinha havido sexo por ali, e sexo, qualquer de suas manifestações, devia ser escondido. Era pecado, coisa feia. Homens e mulheres, porque elas também jogam muito contra o patrimônio, me chamavam de "puta" em Ipanema. Me contaram que hoje as grávidas botam orgulhosas o barrigão pra fora, mas, naquele início dos anos 70, aquilo foi um pecado que eu, sem querer, eu só queria pegar sol e ser feliz, apaguei da lista de condenações para as mulheres. Agora vejo que continuam inventando novas condenações para a gente.

Eu não queria fazer revolução, queria dar gargalhada com a Aninha, com a Marieta, e namorar muito. Se o teu negócio é minissaia atochada, Geisy, vai nessa. O resto, (*). Beijos da Leila Diniz, e não se esquece de colocar no iPod a música do Jair Rodrigues, ô neguinho assanhado, aquela do "Deixa que digam, que pensem, que falem". Mete bronca e pega um sol nessas coxas que tu muito branquela. Solta a franga, e anota: ser feliz é duca.


Coluna publicada no Jornal O Globo - 16 de novembro de 2009

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Regra Três


Composição: Vinicius de Moraes / Toquinho

Tantas você fez que ela cansou
Porque você, rapaz
Abusou da regra três
Onde menos vale mais

Da primeira vez ela chorou
Mas resolveu ficar
É que os momentos felizes
Tinham deixado raízes no seu penar
Depois perdeu a esperança
Porque o perdão também cansa de perdoar

Tem sempre o dia em que a casa cai
Pois vai curtir seu deserto, vai.
Mas deixe a lâmpada acesa
Se algum dia a tristeza quiser entrar
E uma bebida por perto
Porque você pode estar certo que vai chorar