quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Exercício da despedida


O mais difícil de escrever é quando resolvemos homenagear uma pessoa muito querida. Desejo que este texto seja melhor do que qualquer outro que escrevi. Escrever sobre uma pessoa querida é como dar de presente o meu maior dom, a escrita. Gostaria que nas próximas frases meu texto consiga chegar perto da emoção que sinto hoje.

Há exatamente 11 anos atrás eu perdia o meu melhor amigo. Eu perdia a pessoa que namorou comigo no momento que eu estava mais sozinha no mundo. Nós só entendemos a morte quando uma pessoa que nós amamos muito, morre. Deveria ser proibido morrer com 18 anos.

No dia 19 de novembro de 1997 ouvi a sua voz pela última vez. Marcamos um encontro no qual nunca ocorreu. Um carro entrou no seu caminho e levou sua vida embora. Até hoje guardo anotado seu último recado, o seu novo número de telefone.

A notícia da sua partida chegou tarde demais, o enterro já tinha ocorrido. Quando soube do que tinha acontecido, gargalhei. Não era possível que eu tivesse conversado com uma pessoa um dia antes e no dia seguinte esta pessoa não estava mais aqui. Era uma piada de humor negro. Meus amigos são engraçados e estavam me contando uma piada, só podia ser. O estranho era que só eu que estava rindo.

De repente percebi que era real e minha gargalhada não cessava, era algo muito pertubador. Então as lágrimas escorreram e minha gargalhada foi sumindo. Não era justo a morte com ele que tinha acabado de ser pai. Porém já era tarde, não existia mais enterro e eu não me despediria do meu amigo.

E ali soluçando vi que eu tinha perdido alguém que foi muito importante na minha vida. Nunca falei para ele o caos da minha vida, era muito reservada quanto aos problemas que estava enfrentando. Mas tê-lo como namorado fez com que eu tivesse horas de prazer e consolo diante de uma vida tão complicada.

Quando o namoro acabou, não conseguimos nos afastar. Éramos muito amigos para nos mantermos distantes. Ainda lembro da diretora do colégio me questionando porque namorava com alguém tão diferente de mim, logo eu, uma excelente aluna. Tinha que conhecê-lo e assim seríamos amigos durante sua curta vida.

Me lembro da felicidade quando contou que tornou-se pai. Seu filho teria nome de santo, como na música. Me lembro do vinil que me fez escutar e não entendia como eu não conhecia Legião Urbana. O LP era "O Descobrimento do Brasil".
E no dia que fugiu de casa com sua bicicleta roubada e se abrigou na minha casa. Aquele covarde do seu pai, veio buscá-lo pois não admitia que tivesse roubado a bicicleta que tinha comprado e que não daria de presente no natal pois ele tinha repetido de ano no colégio.
Lembro das rodinhas de violão na pracinha. A sua dificuldade para aprender os acordes. Você me considerava linda e lindamente tocou para mim, "Você é linda" do Caetano. Foram tantos momentos, tantas alegrias que não poderiam cessar com um motorista que atropelou um jovem de bicicleta e sequer prestou socorro.

Naquele momento, não sabia que a vida era algo tão frágil. Hoje estamos aqui e amanhã não sabemos. Não importa se temos planos para o futuro, pessoas queridas, todas estas coisas não impedem a nossa morte. Por hoje queria dar um abraço bem forte nele. Mas infelizmente não é possível.

3 comentários:

Marina disse...

Parafraseando você, devia ser proibido morrer com 18 anos. Quase chorei aqui, agora. Foi linda a sua homenagem. Com certeza, ele sentiu essa beleza, onde quer que esteja.

Abraço.

Lu Motta disse...

Obrigada pelo comentário!!!!

Lu Motta disse...

Estava meio para baixo com esta data...