quarta-feira, 23 de julho de 2008

Exercício de surdez



E-mail para um idiota
23/07/2008






Há alguns meses atrás, você veio com a notícia que ia ser papai. Fiquei mal, mas engoli. Nós só tínhamos um caso. O sexo era uma delícia. Não me importava o que você fazia fora dali.


Mas era uma fachada. Estava completamente apaixonada por você. Se eu colocasse todo aquele sentimento para fora, você se assutaria. Todos os homens se assustam quando mostro a intensidade dos meus sentimentos. Todos uns bundões.


Fiquei naquela de amiga. Puta que é assim, ouve o homem reclamar da mulher, dos filhos e da vida. O problema é que não estava sendo remunerada na função de ouvinte.


Acompanhei todo o drama familiar dos sangues com fatores incompatíveis. Você chorou que nem um bebê, quando seu filho quase morreu. Eu estava lá no meu papel de ouvinte.


Com o decorrer do processo de gravidez, as ligações para mim ficaram cada vez mais espaçadas. Nem me preocupei, sabia que você iria curtir a gravidez e ia me dar o pé na bunda.


A proximidade das nossas mesas de trabalho, fizeram com que eu acompanhasse a novela, pelos nossos maravilhosos colegas de trabalho. Eles, sem saber, me contaram como foi concebido o filhinho do Fábio. Na viagem que ele fez com a namorada para Búzios.


Como assim???? Você me chamou para Búzios neste mesmo fim de semana, pois estaria lá a trabalho. Brincou que seria a nossa "lua de mel".


E a viagem que os pombinhos fizeram para a Europa. Porra, Fabio???? Europa... A gente marcou esta viagem. E você até lembrou que não teria mulher melhor para ir com você do que eu. Ia te deixar soltinho. Filho da puta.


Ou sou eu a filha da puta e vagabunda que fiz planos com um cara que estava com outra. Foda-se. Estou com vontade de dá na cara. Socar, como soco estas teclas.


Your baby born. The Little Fabio. Gente cafona, coloca o nome do pai no filho. E tenho que compartilhar a sua felicidade. Tá feliz, não esfrega na minha cara, porque não estou.


Sou vagabunda, mas também quero ser mãe. Aqui dentro tem uma mulher igual a mãe do seu filho. Só que ninguém admite o que é realmente.


Não adianta me procurar com o olhar e se preocupar se está me magoando. Não adianta falar baixo para eu não ouvir. Estou aqui e ouço tudo. Ouço porque quero, mas me machuco. Como me machuco.

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